MEDO - Parte 1
Hoje eu quero falar sobre o medo...prepara que vem textão, mas é IMPORTANTE!
Busquei nas redes o significado da palavra MEDO e apareceu o seguinte: “Medo é um estado emocional que surge em resposta a consciência perante uma situação de eventual perigo. A ideia de que algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança ou a vida de alguém, faz com que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam reações que caracterizam o medo.”
Há 1 ano atrás, depois de um período cuidando da minha mãe no hospital (ela tem insuficiência renal grave) fomos infectados pelo coronavírus e tivemos COVID-19, minha mãe, meu pai, meus irmãos, minha cunhada, meu sobrinho, ao todo 7 pessoas. O Cris, meu marido, e eu ficamos muito muito mal, mas conseguimos ser tratados em casa. Eu tive 30% de comprometimento do pulmão e ele teve 25%. Graças ao rápido atendimento de médicos e amigos médicos, com as medicações corretas, conseguimos nos tratar em casa, mas foi o período mais difícil das nossas vidas. Nós alucinávamos dia e noite, ficamos 12 dias sem comer quase nada, só o suficiente para engolir os remédios, sentíamos dores horríveis no corpo, não conseguíamos dormir à noite, trocávamos de cama a cada hora e, lembro como se fosse hoje que eu chorava toda a noite e visualizava o “vírus maldito” circulando em meus órgãos e imaginando se eu iria acordar no dia seguinte. Pensava no meu filho e o medo que eu tinha de morrer e não o ver crescer e não poder vibrar com suas conquistas, assim como eu chorava de medo de que o Cris morresse.
Além do vírus, o medo me acompanhou constantemente, pois estava apavorada e em pânico com a saúde do meu pai e da minha mãe que estavam infectados e hospitalizados.
Nosso corpo finalmente reagiu e as poucos fomos melhorando, foram 16 dias de inferno. Quando pensei que havia acabado, meu pai foi para a CTI com 80% do pulmão comprometido e em 7 dias nos deixou! Foi uma das maiores tristezas da minha vida e passei por algo que só tinha visto em filmes, tudo surreal. Consegui visitar meu pai duas vezes na CTI...falava com ele através de um walkie talkie pelo vidro. Ao conversar com as médicas responsáveis vinha sempre a explicação de que os pulmões dele estavam muito comprometidos e que se ele saísse daquele quadro iria ter de andar com oxigênio pelo resto da sua vida e, tenho a certeza, odiaria! Meu coração estava apertado, a tristeza veio e não foi mais embora, a capacidade de me refazer das situações difíceis da vida também estava temporariamente perdida, em algum lugar que eu não conseguia acessar naquele momento. Eu ficava buscando imagens na minha cabeça de quando ele me ensinou a dançar pisando em cima dos seus pés, das ligações só para ele ouvir minha voz, das piadas sem graça que já tínhamos ouvido uma centena de vezes e que ele contava como se fosse a primeira vez, até do mau humor eventual dele. Eu queria, com todas as minhas forças e de uma forma até egoísta, que tudo isso voltasse.
Ao mesmo tempo em que eu precisava de uma certa lucidez para começar a pensar em coisas burocráticas, porque a equipe médica já havia nos dito que seria necessário um milagre para que ele saísse dessa, nunca senti tanto medo na vida, naqueles poucos dias de CTI vi muitos mortos saindo de lá em macas que eram empurradas por equipes paramentadas que pareciam astronautas e com os mortos enrolados somente em lençóis brancos, algo que eu só havia visto em filmes. Eu não queria que meu paizinho saísse daquele jeito de lá...mas foi assim que ele saiu, era o protocolo.
Exatas 12h depois dele ser intubado foi permitido que nós entrássemos na CTI, mas eu não poderia entrar no leito, novamente só pelo vidro. Quando eu parei no vidro e olhei aquela pessoa cheia de tubos e fios, não vi meu pai, ele estava de outra forma...quando a médica me deu os detalhes da intubação e o enfermeiro que segurou a mão dele durante todo o processo me contou quais foram suas últimas palavras, os recados que mandou para todos, eu que me julgava forte sucumbi à dor daquelas palavras e das lágrimas que escorriam no rosto do enfermeiro...ele disse que meu pai pediu para rezar um Pai Nosso segurando sua mão porque ele estava com medo...nesse momento a médica perguntou se eu queria entrar para me despedir e eu disse que sim, com certeza.
Eu fui totalmente paramentada em função do protocolo extremamente exigente e pude entrar. Eu não sabia o que fazer em um momento assim, afinal eu nunca tinha passado por tal situação. Foi muito, mas muito difícil, no entanto de alguma forma me senti em paz e privilegiada, pois eu estava podendo segurar sua mão, dizer que o amava e consegui dizer que era para ele ir tranquilo, que estava livre, que não precisava mais sofrer, que nós iríamos cuidar da mãe e que ele nunca seria esquecido. Mas a cabeça da gente nos prega peças e eu só conseguia pensar que ele estava sentindo frio, que estava com a mão para fora do lençol e ela estava geladinha, então eu afaguei aquela mão que me conduziu com amor e cuidados pela vida inúmeras vezes, que rodopiou salões de baile me embalando em valsas, boleros e tangos, que me afagou os cabelos quando perdi meu primeiro amor e que agora eu estava tocando pela última vez. Tapei a mão dele e me despedi com todo amor!
Aquela foi a pior despedida da minha vida, a pior dor, a pior emoção. Uma sensação de vazio tomou conta de mim...e exatos 20 minutos depois da despedida ele se foi. Talvez estivesse esperando somente uma autorização.
Recebi a notícia da partida do meu paizinho por duas médicas (algo que eu nunca imaginei passar) que tinham dor e tristeza no olhar, que tenho certeza queriam me dar um abraço, mas não podiam me tocar afinal abraços não eram permitidos. Estava junto com meu sobrinho Paulo. A dor e a tristeza não eram só minhas, mas o pior que também nunca quis passar foi ter de dar a notícia para minha mãe que seu grande amor tinha partido, sem ela poder se despedir...aquilo partiu meu coração em diversos pedaços.
Enfim, sobrevivemos eu achava. Mas a que custo?
Ao fazer exames pós-COVID19, descobri diversos problemas sérios e graves como: diabetes tipo 2, vesícula LOTADA de pedras, ácido úrico altíssimo, respiração péssima voltando aos poucos ao normal e mais outras coisitas.
Não bastasse tudo isso, passei por algo que nunca imaginei passar, que foi muito difícil e, de novo espreitava minha cabeça e meu coração...o MEDO...uma semana antes do Natal tive três crises de pânico muito sérias, em três dias consecutivos. De novo achei que iria morrer!
MEDO, muito medo. Me sentia no escuro, onde você toca, mas não identifica no que tocou, me sentia perdida com um sentimento de desamparo, tinha um vazio enorme no peito, meu corpo tremia inteiro!
Mas eu tenho amigos maravilhosos que cuidam muito bem de mim e um deles, meu Gastro, me ouviu e me indicou outro amigo Psiquiatra.
Pensei: como assim eu, quem sempre uma capacidade de resiliência não estou conseguindo dar a volta nessa situação? Não pode ser assim. Havia um sentimento de total fracasso em mim. Eu pedi ajuda, meu corpo gritou por socorro.
Comecei então um tratamento multidisciplinar com Gastroenterologista, Cardiologista, Endocrinologista, Psiquiatra, Ginecologista e Personal Trainer. Precisava perder peso urgentemente para buscar o equilíbrio do organismo.
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