MEDO E JULGAMENTO - Parte 3
“Quando você julga uma pessoa, isso não a define. Isso define quem VOCÊ é.”
Autor Desconhecido
A sociedade em que vivemos busca a felicidade e o bem-estar de forma obsessiva, não podemos estar “tristes”, não podemos ter medo, não podemos ter raiva em um dia e no outro estarmos felizes que já somos “bipolares” ou “borderline”, não podemos sentir tristeza, há um excesso de positividade e há tal “felicidade instagramável” que se resume a sensações fugazes, efêmeras, mas que possam estar nos posts do Instagram, com um belo filtro (não podemos esquecer disso), belas cores e frases de efeito para ganhar likes.
Tem uma frase de Alberto Caeiro que diz: "Tristes de nós que trazemos a alma vestida" e essa é a realidade por detrás das redes sociais.
E, apesar do medo hoje ser quase coletivo, ainda não é “permitido” senti-lo e numa tentativa de não sofrimento é bloqueado com afirmações positivas havendo a negação do sentimento.
Eu uso muito o Instagram, porque gosto mesmo de postar e compartilhar as belezas da vida e como podemos curtir e dar valor às pequenas coisas ao nosso redor, então quando passei a postar minhas alegrias por quebrar muros que eu tinha em meu interior, passei a me julgar também, antes do julgamento alheio, mas eu fiz isso porque muitas vezes também julguei. Exatamente, eu sofria julgamentos da minha própria pessoa. Serviu para pensar e avaliar. Foram momentos de choro e tristeza, mas de muita entrega.
Foi então que minha sobrinha querida Bárbara me disse no Dia das Mães, em maio desse ano: “tia, tu precisas continuar postando teus treinos, tu és um exemplo de superação e vontade, isso inspira pessoas. Tu, com 4.9 mudando 100% de vida? Tia, não tem como isso não inspirar alguém.”
Olha o meu medo de julgamento atuando novamente enquanto eu mesma me julgava, porque simplesmente não conseguia acreditar que eu, eu mesma estava gostando dos novos hábitos e que pudesse ser inspiração para alguém.
Preciso situar vocês...
Meu irmão mais velho faleceu há quase 7 anos aos 52 anos vítima de um infarto fulminante. Ele escolheu viver a vida intensamente e sem cuidados, gostava de comer, não praticava atividades físicas e no auge da felicidade por ter reencontrado um amor de adolescência, teve um infarto fulminante e nos deixou. Percebi que eu não queria isso. Quero viver por mim e principalmente pelo meu filho. Quero ver a vida linda passar, mas de forma saudável. Quero viajar, conhecer o mundo, aproveitar a vida ao lado da minha família e dos que eu amo, e ainda ter energia para cuidar dos netos, sobrinhos-netos que vierem no futuro. Quero muito estudar mais, dar aulas, amar muito!
Por isso, eu mudei de fato minha vida...minha alimentação é totalmente diferente recheada de frutas, legumes, verduras, grãos, faço exercícios pelo menos três vezes por semana, faço práticas de respiração (ainda pouco, mas eu juro que tô tentando), continuo o tratamento com o meu Psiquiatra o que me traz muita paz...hoje eu convivo com o diabetes, com o medo e continuo hipertensa. Senti dores físicas e da alma que não imaginei sentir em minha vida...E ainda assim me autopunia esperando o julgamento alheio que viria de uma forma ou de outra...
Lia nas redes sociais frases do tipo: “Se não postar não funciona” e me sentia um pouco desrespeitada, pois você não sabe o que estava por trás daquela foto da vacinação, do choro pós-foto por estar me vacinando, meu marido e meu filho também e meu pai não ter conseguido, do sacrifício e esforço para mudar de vida e o quanto cada minuto, cada gota de suor, cada quilo perdido, cada músculo dolorido eram superação e alegria por estar conseguindo deixar para trás as dores da alma e do corpo. E o quanto aquela foto pós-treino ou pós-malhação (sim, me sinto à vontade também para falar do jeito que eu quiser) significam. Em 10 meses, foram 21kg perdidos, fôlego a caminho da restauração, muita serotonina enviada para o cérebro e alegria por estar viva e saudável.
No entanto, ainda há julgamento e sei que sempre haverá! No momento que me exponho, estou sujeito a isso, portanto aprendo a conviver diariamente.
Ainda me sinto pouco à vontade com estas publicações, mas faço porque me auxiliam no processo de cura!
Recentemente tive uma nova crise de pânico e entendi que o medo sempre estará comigo, mas como eu já disse, eu o acolho, aceito e aprendo cada dia mais a como conviver com ele e com os efeitos em minha vida! Não deixei de ser feliz nunca, porque eu tenho uma vida privilegiada e cheia de amor. A fé me acompanha a cada minuto do caminho me amparando e dando forças pra fazer as melhores escolhas!
Não tenho a pretensão de achar que minha história vá mudar a vida de alguém, mas nesse caso publicá-la ajuda principalmente a mim, ao meu processo e se dessa forma eu ajudar ou inspirar uma pessoa já estarei feliz!
Fiquem bem!
Comments